UEPB entrega premiação do “Concurso de Cordel Jackson do Pandeiro: 100 anos do Rei do Ritmo”

15 de dezembro de 2020
UEPB entrega premiação do “Concurso de Cordel Jackson do Pandeiro: 100 anos do Rei do Ritmo”Sob a chancela da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), 10 novos títulos da Literatura de Cordel foram trazidos à luz pelo engenho dos poetas, adentrando o mundo dos leitores no último sábado (12). É que foi realizada a premiação referente ao “Concurso de Cordel Jackson do Pandeiro: 100 anos do Rei do Ritmo”. Promovido pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult) da Instituição, em parceria com a Academia de Cordel do Vale do Paraíba (ACVPB), o certame estabelecia como prêmio a publicação e distribuição das obras vencedoras. O evento obedeceu às normas sanitárias impostas pela Covid-19 e teve como sede o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), em Campina Grande.
Professores do Centro Artístico Cultural (CAC) da UEPB, Erivan Ferreira, Caio César, Bruno Giovanni e Luizinho Calixto fizeram a abertura das atividades com uma apresentação musical. O presidente da ACVPB, Marconi Araújo, foi o mestre de cerimônias.
Dentre os presentes, estavam o pró-reitor de Cultura da UEPB, José Cristóvão de Andrade, o coordenador de Comunicação, Hipólito Lucena; os curadores da Sala de Cordel do MAPP, Joseilda Diniz e Alfrânio de Brito; os poetas Raniery Abrantes, Chico D’Assis e Jota Lima, Silas Silva da Paraíba; as poetisas Aparecida Pinto, Vanuza Vieira e Annecy Bezerra Venâncio; entre outros. Dos premiados, que foram 10 no total, pode-se destacar na plateia, Antonio de Pádua Gomes da Silva, conhecido como El Gorrión (1º lugar), José Ferreira de Lima Neto (2º lugar), Anne Karolynne Santos de Negreiros (3º lugar), Tiago Monteiro Pereira (5º lugar) e Ana Bárbara da Cunha Luciano (7º lugar).
Utilizando a Gráfica da UEPB foram confeccionados 2 mil cordéis para cada obra selecionada, sendo mil destinados aos poetas, 200 à Biblioteca Átila Almeida e 800 para o Sistema de Bibliotecas Públicas da Paraíba, segundo enfatizou o presidente da ACVPB.
Na oportunidade procedeu-se, ainda, com uma homenagem à professora e poetisa Almira Araújo, que faleceu este ano. Almira foi lembrada por uma de suas grandes amigas, Aparecida Pinto. Visivelmente emocionada, Aparecida assinalou em sua fala o devotado amor de Almira pela literatura, seu talento para a escrita e como a amiga sempre esteve engajada em eventos poéticos. “Almira se eternizou em seus versos, no encanto de sua existência e na recordação de todos”, pontuou.
Uma construção coletiva
Para o pró-reitor de Cultura, o processo envolvendo a competição cordelística se configurou como uma construção coletiva de sucesso. “Edificamos o edital junto com a ACVPB, tivemos a colaboração de muita gente. Deixo aqui o meu agradecimento especial à Reitoria, porque a nossa Instituição homenageou Jackson na prática, em grande estilo, aproveitando a oportunidade para enaltecer a expressão das vozes poéticas regionais”, apontou. Andrade acrescentou que o Concurso reafirma o compromisso da UEPB, no sentido de envidar esforços para o incentivo da cadeia produtiva local no gênero, abrindo um diálogo criativo e respeitoso com os artistas.
De acordo com o presidente da ACVPB, o certame possibilitou aos amantes da literatura de cordel um trabalho prazeroso no que se refere ao tema do Ano Cultural Jackson do Pandeiro, instituído pelo Governo da Paraíba em 2019. “Além disso, fez com que todos os cordelistas pudessem se sentir, de fato, valorizados em razão de suas produções poéticas serem passíveis de publicação efetiva, como realmente se deu. Ademais, permitiu a elevação de nosso Rei do Ritmo, com um registro histórico e poético memorável a este paraibano que tão bem representou o nosso Estado, nos palcos do país inteiro. Um exímio instrumentista, especial compositor e cantor impecável, capaz de interpretar, com impressionante desenvoltura, canções definidoras da essência rítmica do cancioneiro nordestino”, explicou.
A professora Joseilda Diniz detalhou que a entrega das premiações marca o fechamento de um ciclo de atividades e projetos voltados ao fomento, promoção, salvaguarda e divulgação da literatura de Cordel na Paraíba. “Fortalece um patrimônio cultural e imaterial brasileiro vivo, que não cessa de nos surpreender com o seu vigor e permanência, através de gerações e gerações de artistas, sempre nos honrando com suas produções e reinvenções. É um momento feliz de coroação do centenário de Jackson do Pandeiro, ao longo de mais de um ano de festejos em seu nome. Tivemos uma forte participação. Em um momento futuro, todas as contribuições serão conhecidas pelo grande público, mas, no momento, os 10 primeiros premiados foram publicados”, disse.
Conforme Jota Lima, o edital delineou-se como uma ocasião muito oportuna àqueles que possuíam textos engavetados. “Tivemos participantes de Itatuba, Patos e demais cidades paraibanas, e as obras foram analisadas por grandes nomes da arte do cordel. Com o concurso, a cultura do nosso Estado torna-se mais rica”, concluiu.
Conquistas
El Gorrión afirmou ter sido a primeira vez que ficou em 1º lugar em um concurso literário. “Para mim, é de suma importância. Sinto que depois deste concurso e com a posição que tive, aumentou consideravelmente a responsabilidade no que tange à minha produção literária popular. A premiação em cordel é algo que envaidece os poetas”, explanou.
Estudante do curso de Filosofia da UEPB, Neto Ferreira, que conquistou o 2° lugar, apontou que para ele a premiação significa uma grande conquista no cenário estadual, dando vez e voz a arte cordelista. “Me sinto lisonjeado pela minha colocação em meio a tantos grandes vates que disputavam. Hoje já me considero pertencente à seara dos cordelista paraibanos, representando a nova geração e disseminando a cultura popular por onde passo. É um privilégio retratar Jackson através do universo das rimas, a memória dele segue viva entre nós, sua obra permanece, além dela ser um incentivo para que busquemos a cultura de qualidade”, contou.
Em 3º lugar no certame, Anne Karolynne criou uma estrofe para celebrar o feito: Parabéns, UEPB/Por fomentar a cultura/Amei fazer a homenagem/Com cordel, rima e doçura/Pra falar do Rei do Ritmo/Na nossa literatura. “Em verso, em prosa, na música ou na poesia, Jackson do Pandeiro merece sempre ser lembrado e homenageado. O concurso promovido pela UEPB foi um estímulo aos poetas cordelistas conhecerem mais sobre a história do Rei do Ritmo e dar vida a ela por meio dos versos do cordel, vestidos de amor, cultura e poesia. Com alegria fiz este resgate histórico, exaltando um musicista paraibano que deixou um legado tão grandioso como Jackson, um orgulho para nós. Outra alegria foi ter sido premiada no concurso e poder levar esta história na minha bagagem de cordéis para que alcance muito mais pessoas”, disse.
Lançamentos
A premiação aconteceu durante o “Cordel no Museu”, empreendimento de êxito que resulta de uma parceria firmada entre a Procult e ACVPB. E, na programação da atividade, havia o lançamento de outras obras. Uma delas era “As Aventuras de Ciba e Pitelim no Multiverso da Física e Outros Cordéis”, de autoria de Josenildo Lima (Jota Lima), Jean Moisés de Sousa (J. Sousa) e Samuel dos Santos Feitosa (S. Feitosa).
O livro vem sendo construído há 13 anos e foi pensado por esses três amigos que se conheceram no curso de Física da UEPB. Mais tarde, já professores, percebendo a dificuldade dos estudantes no aprendizado da matéria, considerada um verdadeiro enigma para os alunos, eles decidiram dar uma nova roupagem aos conteúdos. Abordando temas como eletricidade, as Leis de Newton, estudo das ondas, ótica e astronomia, a publicação perfaz uma interessante ferramenta pedagógica.
Foram lançados, ainda, “100 Anos de Ritmo”, “O Trem do Tempo” e “Inverso – O que é que me falta fazer mais”, de Silas Silva da Paraíba. Os dois últimos, segundo Silas, que também é ilustrador, foram escritos neste período de quarentena. “O Trem do Tempo trata dos mistérios e caminhos da vivência. Já o Inverso, traz a questão do artista ser valorizado somente após a morte.
Mais recentemente, me chamou a atenção, por exemplo, o enorme destaque que o cantor Belchior alcançou depois que morreu, esse foi um dos motes. Nesse livro, fiz um apanhado de todas as modalidades de cantoria, eu posso resumi-lo como diz sua abertura: um banquete para o esquecimento”, detalhou. Já “100 Anos de Ritmo”, ele escreveu em 2019 tecendo uma narrativa poética sobre Jackson. “Como já havia feito esse livreto, decidi não participar do Concurso da UEPB, mas me coloquei à disposição para ajudar e fui convidado a integrar a Comissão Julgadora”, finalizou.

 
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Hugo Tabosa e Neto Ferreira