Sobre as pedras e as ideias – Os 50 anos da Universidade Estadual da Paraíba

23 de dezembro de 2016


De que é feito o mundo senão de ideias? Do surgimento de uma, até a sua concretização, porém, vai uma longa distância. A vida é dura feito pedra e, para que cada ponto luminoso trazido por uma ideia desponte, e de fato viva, no misterioso abismo do existir, é preciso que muitos Severinos, “iguais em tudo e na sina”, como dizia João Cabral de Melo Neto, consigam abrandá-la, consigam forjá-la e moldá-la, aplainem-na e, sobretudo, acreditem nela.
Porque viver é ser teimoso, porque criar é ser teimoso, porque o cortador de pedra ao martelar 100 vezes a rocha, sem que se vislumbre de início nenhuma rachadura de esperança, sabe que, lá pelas tantas 120 marteladas, a pedra se abrirá em duas e não foi aquela última martelada que conseguiu essa façanha, mas todas as outras anteriores.
Sim, a vida é dura feito pedra, e nada é fácil dentro dela, menos ainda a concretização das ideias. Para pari-las faz-se necessário também que haja muitas vontades pétreas. Primeiro a ideia, depois determinação. Primeiro a ideia, em sequência a lida. Que se atirem pedras na água, para que, ao derredor, ondas delas, ecos do pensamento, produzam-se e encontrem reverberação noutros ouvidos e falas, noutras vontades semelhantes, dispostas a burilá-las, dispostas a esmerá-las, a descobrir uma nesga de ouro na imensidão desconexa e rochosa delas. E, no delicado mecanismo do Universo, algures, elas se buscam e se esfregam e começam a conversar diálogos vibrantes. É onde começa a se delinear o que chamamos de ação. Se uma ideia paira e para no campo do pensar, se não é atirada na água, é silenciosa. Ela apenas circula entre sinapses frouxas, evanescentes, tímidas, para, em seguida, no máximo, repousar.
Aqueles que idealizaram a UEPB, que ousaram abraçar e cantar alto o eco da ideia e dançar ao som dela – porque sim, também é divertido, é gratificante ter ideias e pegá-las com as mãos, com essas mãos que escrevem, mas que outrora foram usadas por nossos ancestrais, pedra e pau, fogo para desbravar o mundo – aqueles que, com mãos de ansiedade e um quê desesperado agarraram a ideia como, às vezes, abraçamos fortemente aqueles a quem amamos, pois a vida é breve e as ideias são longas, não encontrarão esse repouso. Nele descansam apenas as ideias que moram no limbo cinzento da inércia.
Não há sombra em se tratando de ideias, nem há cronômetro que meça o tempo dedicado à execução e ao desdobramento delas. Uma ideia surgiu e lá se vão 50 anos. Uma ideia deu certo, ela cresceu e encontrou um mundo de possibilidades bonitas na dureza que é a vida. E que é a vida senão uma perseverante busca pela beleza? Pelo espanto, alegria e angústia que tudo que é belo encerra? Como o sol do Agreste onde nasceu a UEPB, desafiando-o, destemida, as ideias que encontram êxito são causticantes, necessitam contínua, incansável labuta. Aqueles que nessa ideia depositaram e depositam sua fé e seu esforço não encontrarão repouso: ter uma ideia é também ser responsável pelos destinos dela. E hoje esse destino é o de milhares.
Texto: Oziella Inocêncio