2° Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos é encerrado no Teatro Municipal Severino Cabral

21 de junho de 2018

 

O 2° Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos, evento promovido pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), foi encerrado na última terça-feira (19), no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande. Através de numerosas apresentações, o Encontro proporcionou uma noite de encantamento ao público, tendo como estrela da festa o trabalho desses emissários da arte popular, verdadeiros arautos da música nordestina.
As atividades começaram com a exibição da turma de Canto Coral do Centro Artístico Cultural (CAC) da UEPB, em uma apresentação temática, permeada por sucessos de Luiz Gonzaga, com canções como “Assum Preto” e “Noites Brasileiras”, feita sob a coordenação do professor Erivelton da Nóbrega. Em seguida se deram as exibições dos repentistas Raulino Silva e Rogério Menezes , junto com o docente da Oficina de Poesia Popular e Cordel do CAC, Iponax Vila Nova. Os três deram um espetáculo à parte e interagiram com a plateia, que se divertia respondendo às provocações e improvisações.
Do mesmo modo ocorreu a apresentação dos emboladores de coco Canário e Caboclo, já familiares ao público do Encontro, sempre trazendo motes lúdicos com a peculiar espontaneidade da dupla. Muitas crianças, a exemplo de Raí Bezerra e Pedro Aquiles, também estiveram no palco do Municipal, mostrando toda a sua habilidade com a sanfona e o fole. Bichinho do Acordeon e Lucílio Souza, entre outros sanfoneiros experientes, também enriqueceram o evento, com diversas participações.
A comitiva do Campus V da UEPB trouxe o professor do Curso de Sanfona da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Helinho Medeiros, que se apresentou com o músico Rainere Travassos. Entre os sucessos do repertório selecionados pelos dois, estava “Paraíba, meu amor”, de Chico César. Posteriormente Helinho se apresentou com os estudantes do referido curso, a exemplo de Carol Benigno e Olga Soares. Houve, ainda, declamações com Neto Ferreira e exibições dos professores do CAC, Erivan Ferreira, fazendo a parte percussiva do Encontro, e Edglei Miguel e João Batista, com os estudantes que integram as oficinas de Sanfona denominadas “Sivuquiando” e “A Sanfonada”.
A homenagem a Zé Calixto, feita pela edição do Encontro este ano, ficou a cargo do Grupo de Tradições Populares Acauã da Serra, acompanhado do diretor Agnaldo Barbosa. Dela participaram vários integrantes da “Dinastia dos Calixto”, como João e Zelita (irmãos de Zé) e Marcelo e Mike Calixto (sobrinhos). A família recebeu um estandarte feito pelo artesão Sérgio Nascimento, tendo como tema a obra de Zé Calixto. Mais tarde, todo o “Clã dos Calixto” se apresentou no evento, com Zelita no vocal. Finalizando as atividades, procedeu-se com a entrega dos certificados.
A decoração do Teatro Municipal Severino Cabral foi efetuada por Mauro Araújo e, como de costume, o mestre de cerimônias foi o poeta e servidor da UEPB, Lino Sapo. O professor Henrique França, provindo do Campus V, a professora Vaneide Lima, do Campus IV, a diretora do Centro Artístico, Patrícia Lucena, e uma das curadoras do Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), Joseilda Diniz, bem como a presidente do Instituto Solidarium e criadora do Festival de Inverno de Campina Grande, Eneida Agra Maracajá, foram alguns dos que compuseram o público da iniciativa.
Um encontro histórico
Pelo entusiasmo e beleza dos instrumentos ao redor – sanfonas, foles, pandeiros e triângulos – a primeira fila à direita do Teatro chamava a atenção da plateia. Era onde estavam sentados os homenageados do Encontro e seus familiares e acompanhantes. Histórica, a ocasião reuniu o trabalho de Assis Rosa (Catolé do Rocha), 67, Manuel Tambor (Lagoa Seca), 90, e Seu Cabral (Araruna), 90, contando ainda com a dupla “Da Guia de Seu Antônio”, 75, e Seu Antônio de Da Guia, 80 (Lagoa Seca). Esbanjando vitalidade e alegria pela ocasião, eles integraram toda a programação do evento em variadas apresentações.
Mesmo havendo passado por um pequeno procedimento cirúrgico naquele dia, Da Guia afirmou que nem cogitou faltar à iniciativa. “Encontro assim não é sempre que tem. Além de ser divertido, nos sentimos muito queridos. Não é em todo lugar que valorizam nosso trabalho como aqui, então a gente vem para receber esse carinho”, explicou. Animada, a conversa entre Seu Cabral e Manuel Tambor versava sobre a carreira de ambos, notadamente a respeito dos shows que faziam nos sítios antigamente, posto que, a despeito da distância em que moravam, um escutava falar sobre o outro.
O pró-reitor de Cultura, José Cristóvão de Andrade, destacou que apenas por promover essa aproximação entre os artistas o Encontro já valia a pena. “Nossa satisfação é imensa por presenciar isso. É muito gratificante. Esse Encontro tomou proporções tão grandes, envolve laços tão fortes… Ele é feito pela música do nosso povo, essa riqueza genial que temos na Paraíba, mas principalmente pelas pessoas, pessoas que têm uma vida tão árdua, dado que a maioria vem da difícil lida no campo, mas que seguem mantendo a sua doçura, a sua vivacidade, a sua crença na Arte e na vida”, explanou.
Explicando a ausência do pró-reitor adjunto de Cultura, José Benjamim Pereira Filho, idealizador do Encontro, o professor Andrade lembrou ainda das adversidades enfrentadas para a execução do evento. “Nós da UEPB nos sentimos presenteados por termos conseguido realizar esse evento, em parceria com os câmpus, com as prefeituras. Ganhamos a simpatia e a adesão de muita gente interessada em nos ajudar e apesar de todas as dificuldades financeiras enfrentadas pela Universidade, com a constante redução do orçamento dela, imposto pelo Governo do Estado, nos sentimos vencedores e vamos seguir em defesa da UEPB e da Cultura da Paraíba”, explicou.
O 2° Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos dispôs entre seus objetivos, o de conferir relevo e destaque a esses profissionais, propondo, igualmente, que tenham cada vez mais espaço, em especial nas festas juninas do Estado, tendo em vista que a participação deles diminui a cada ano. O Encontro também buscou difundir a música da sanfona e do fole em todo o Nordeste e nas demais regiões do Brasil, além de fomentar, de modo mais efetivo, junto ao cotidiano da música nordestina e brasileira, o projeto de cultura popular da UEPB. Este ano, a iniciativa passou pelas cidades de Araruna, Monteiro, Guarabira, Catolé do Rocha, Lagoa Seca, João Pessoa e Campina Grande.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Hugo Tabosa e Uirá Agra